sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A flor do maracujá



















A FLOR DO MARACUJÁ


Encontrando-me com um sertanejo

Perto de um pé de maracujá

Eu lhe perguntei:

Diga-me caro sertanejo

Porque razão nasce roxa

A flor do maracujá?


*

Ah, pois então eu lhi conto

A estória que ouvi contá

A razão pro que nasci roxa

A flor do maracujá


*

Maracujá já foi branco

Eu posso inté lhe ajurá

Mais branco qui caridadi

Mais brando do que o luá

*

Quando a flor brotava nele

Lá pros cunfim do sertão

Maracujá parecia

Um ninho de argodão

*

Mais um dia, há muito tempo

Num meis que inté num mi alembro

Si foi maio, si foi junho

Si foi janero ou dezembro


*

Nosso sinhô Jesus Cristo

Foi condenado a morrer

Numa cruis crucificado

Longe daqui como o quê

*

Pregaro cristo a martelo

E ao vê tamanha crueza

A natureza inteirinha

Pois-se a chorá di tristeza

*

Chorava us campu

As foia, as ribera

Sabiá também chorava

Nos gaio a laranjera

*

E havia junto da cruis

Um pé de maracujá

Carregadinho de flor

Aos pé de nosso sinhô
*

I o sangue de Jesus Cristo

Sangui pisado de dô

Nus pé du maracujá

Tingia todas as flor

*

Eis aqui seu moço

A estoria que eu vi contá

A razão proque nasce roxa

A flor do maracujá.


Autor: Catulo da Paixão Cearense

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