quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Superstição



Análise da Superstição

Cônego José Geraldo Vidigal

Muitas pessoas  civilizadas e inteligentes  do século XXI ainda se deixam, paradoxalmente, levar por inúmeras manifestações supersticiosas. O termo superstição vem do latim superstitio que significa o que sobrevive de épocas passadas. Acreditam muitos, de fato, ingenuamente, nas formas primitivas de interpretação dos eventos da existência neste planeta, próprios tais modos de ver de povos incultos que não conheceram o desenvolvimento social. A experiência científica avançou consideravelmente, mas crendices ainda povoam mentes que se infantilizam diante dos desafios da vida. Ainda se fala em dias faustosos e aziagos, em pressentimentos tenebrosos, em forças ocultas que agem através de certos ritos inteiramente desconexos com a realidade dos fatos. O fatalismo impera em certas mentes que tudo atribuem a um determinismo que contradiz a reta Filosofia e a sã Teologia. Cumpre ser invulnerável às impressões destituídas de fundamento lógico ou bíblico. É de se notar que tantas vezes se apela para algo extraterreno a fim de justificar fracassos ou a indolência que conduziu a desastres físicos ou psíquicos. Aquele que tem fé sabe, porém, que, segundo as Escrituras, o Ser Supremo é Pai misericordioso, Pastor desvelado e Jesus deixou claro o poder da oração. Por outro lado, tantos fenômenos que se dão têm explicações científicas, mas há acontecimentos tão complexos que nem os sábios podem desvendar. O Todo-Poderoso pode vir sempre em auxílio dos que O imploram, desde que cada um faça o que estiver a seu alcance e sirva o favor divino para o bem da própria pessoa ou por quem se orou e contribua para a mesma glória do Criador de tudo. É preciso não atribuir as coincidências que ocorrem a ações malévolas do Maligno e a imaginação doentia de alguns passam a ver a intervenção de Satanás nas mínimas circunstâncias do dia a dia. A superstição é sempre indício de uma regressão infantil e demonstra insegurança e falta de uma crença profunda.  Como declarou Edmund Burke “a superstição é a religião dos espíritos fracos”. Joubert tem o mesmo pensar: “A superstição é a única religião das almas covardes”. É necessário se ater à psicologia dos atos conscientes, o mecanismo da vontade, o que flui dos reflexos nervosos  que influenciam tantas ações humanas. É que onde tremula a bandeira da verdade, atitudes supersticiosas definitivamente se afastam. O Marquês de Marica em suas famosas Máximas deixou escrito: “A superstição é filha da ignorância e produto de idéias falsas a respeito de deus e fenômenos da Natureza: o meio mais eficaz de a reduzir ou extirpar é o estudo das ciências naturais  com que se consegue uma noção clara da Natureza e atributos divinos e se dissipam muitos erros, ficções e entidades fabulosas, criaturas da ignorância, imaginação e impostura humana”. Quantas pessoas têm medo de passar debaixo de uma escada e isto acontece porque uma crença se arraigou, partindo do fato de certos indivíduos  desprevenidos não terem visto se ela estava firme, se a lata de tinta em cima estava bem equilibrada, se o pintor não estava movido a álcool... Um dos fatos mais deprimentes que se viu na televisão foi a de um Presidente da República brasileira, homem culto e político arguto, ao sair de um hotel no Rio de Janeiro voltou para poder sair pela mesma porta pela qual entrara, pois disse ele, do contrário a desgraça viria visitá-lo! Se doutores agem deste modo, se compreende que indivíduos de menor cultura se deixem levar ainda mais por explicações de certos fenômenos atribuindo-os a forças de índole sobrenatural. Atitudes irracionais, como por exemplo, ligar a ferradura de um animal à sorte de uma casa que a tem pregada na soleira da porta. Há completa desconexão entre causa e efeito. Deste modo a superstição nunca se justifica. Cumpre raciocinar para se chegar a uma conclusão plausível e não relacionar nunca efeitos estranhos com causas ineptas que impressionam por motivos acidentais ou por semelhança meramente extrínseca com os ditos efeitos.  A superstição denoda decrepitude do pensamento, fuga do homem de si mesmo e negação de sua dignidade de criatura pensante. Não se deve nunca admitir qualquer tipo de feitiço, pois isto repugna à uma inteligência esclarecida e a quem tem verdadeira fé em Deus. Ridículas foram as simpatias para o Ano Novo de 2012, como ter comido três uvas à meia-noite, fazendo um pedido para cada uma delas; ter jogado moedas da rua para dentro de casa para atrair riqueza. Estas e outras atitudes semelhantes são indignas  de um autêntico cristão.

Professor no Seminário de Mariana MG durante 40 anos
Fonte: catolicanet

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