Andrea
Tornielli, Vatican
Insider 12/03/2014
O
perfil do bispo foi traçado em dois dos mais importantes discursos do
Pontificado: aquele que Francisco pronunciou em junho de 2013 quando
recebeu os núncios apostólicos, e aquele que fez, fundamental, em 27 de
fevereiro, à Congregação para os Bispos. A estes se pode acrescentar a homilia
de 25 de outubro de 2013 por ocasião das primeiras ordenações episcopais
que o Papa celebrou. Nos últimos meses, estas indicações foram tomando corpo
inclusive em nível operacional dentro da Congregação para os Bispos.
Na entrevista para o Vatican Insider de fevereiro, o cardeal
arcebispo de Chicago Francis George, ao falar sobre a eleição do Conclave,
disse: “O Conclave é um exercício de liberdade. Em primeiro lugar, a liberdade
dos eleitores que devem aprender a libertar-se de qualquer tipo de interesse
pessoal ou amizade ou de qualquer outro motivo para a eleição de um candidato
que não seja o motivo dado durante o juramento antes do voto (“Quem é o melhor
candidato para o trono de Pedro?”). Segundo, a liberdade dos candidatos que
devem ser capazes de desempenhar um ministério pastoral universal (um candidato
que não seja apenas subjetivamente livre, mas também objetivamente livre de
qualquer “bagagem” relacionada às suas origens e ao seu passado...)”.
E este mesmo critério pode ser aplicado ao trabalho dos membros da Congregação
para os Bispos, que devem propor ao Papa os nomes dos novos pastores de uma
diocese. Não é mistério que há muito tempo existem “trilhos
preferenciais”, grupinhos que premiam a proximidade de determinados candidatos
a alguns cardeais, além de significativas ingerências, quanto ao caso
específico da Itália, por parte da cúpula da Conferência Episcopal da Itália e
da Secretaria de Estado. Em alguns casos, as nomeações episcopais para sedes
importantes, tanto por sua história como por suas dimensões, se deram mediante
a chamada “diretíssima”, isto é, o atalho que permite superar o “trâmite” da
Congregação e a discussão entre os cardeais e bispos que a compõem.
Atualmente, certas influências diminuíram notavelmente. Não é nenhum segredo,
por exemplo, que o cardeal Pietro Parolin (nomeado pelo Papa como
membro da Congregação), ao contrário do que faziam seus predecessores, não quer
interferir nas nomeações episcopais (sobretudo italianas), pois também é o
secretário de Estado. E também a “diretíssima” e o poder dos grupinhos deveriam
diminuir.
As indicações de Francisco, a este respeito, são claríssimas. Os núncios
apostólicos, ao escolherem os candidatos ao episcopado, devem assinalar “pastores
próximos das pessoas”, que “não sejam ambiciosos” e não aspirem ao
posto e que não busquem constantemente, uma vez nomeados, ser promovidos
para outra sede mais importante. O bispo ‘casa-se’ com sua Igreja, mas em
muitos casos para com facilidade na segunda ou terceira ‘nupcia’.
“Os candidatos devem ser pastores próximos das pessoas: padres e irmãos, que
sejam mansos, pacientes e misericordiosos”, pediu Francisco, convidando a
deixar que os doutos se dediquem à pesquisa e ao ensino. Os candidatos ao
episcopado devem amar “a pobreza, interior como liberdade pelo Senhor, e
exterior, como simplicidade e austeridade de vida”, em vez de ter uma
“psicologia de ‘príncipes’”. “Que não sejam ambiciosos – disse o Pontífice
aos núncios –, que não busquem o episcopado e que sejam esposos de uma Igreja,
sem que estejam buscando constantemente outra”.
Os bispos devem “servir” e não “dominar”. Devem ser, sobretudo, pais para
seus sacerdotes, devem estar sempre dispostos a recebê-los. Além disso,
devem estar próximos dos “pobres, dos indefesos e de quantos precisarem de
acolhida e de ajuda”.
O Papa Francisco também escreveu à Congregação, também chamada de “fábrica de
bispos”, em fevereiro e pediu-lhes que se assegurassem de que “o nome de quem
foi escolhido seja, acima de tudo, pronunciado pelo Senhor”. “O Santo Povo de
Deus segue falando – disse Francisco – e necessitamos de alguém que nos veja
com a grandeza do coração de Deus. Não precisamos de um dirigente, de um
administrador de empresa, e muito menos de alguém que esteja ao nível das
nossas deficiências ou pequenas pretensões”. O papa convidou para avaliar
as candidaturas sem perder de vista as necessidades das Igrejas particulares,
porque “não existe um pastor padrão para todas as Igrejas”. Também convidou os
membros da Congregação para elevarem-se “além das nossas eventuais
preferências, simpatias, pertenças ou tendências”.
Os critérios desta eleição devem nascer da origem, da Igreja apostólica. O
bispo deve ser “aquele que sabe atualizar tudo o que aconteceu a Jesus, e,
sobretudo, aquele que sabe, junto com a Igreja, fazer-se testemunha da sua
ressurreição”.
A tradução é de André Langer.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 13 de
março de 2014
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