terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Imaculada Conceição de Maria


Maria esmaga a serpente


O surpreendente dia em que o próprio diabo foi obrigado a louvar a Imaculada Conceição de Maria
Durante um exorcismo na Itália em 1823, dois sacerdotes dominicanos fizeram o diabo reconhecer o dogma que seria promulgado 30 anos depois


8 de dezembro de 1854: o papa Pio IX promulga o dogma da Imaculada Conceição de Maria.

25 de março de 1858: na festa da Encarnação do Verbo, a Santíssima Virgem aparece em Lourdes para Santa Bernadete e confirma o dogma dizendo: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

Mais de trinta anos antes, porém, outro fato sobrenatural e surpreendente confirmou a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus. E quem a confessou foi alguém que jamais esperaríamos que o fizesse.

Era o ano de 1823. O diabo tinha possuído um jovem analfabeto de apenas 12 anos de idade, residente na atual província italiana de Avellino, na região da Apúlia. Estavam na cidade dois religiosos dominicanos, o pe. Gassiti e o pe. Pignataro, ambos autorizados pelo bispo a realizarexorcismos.

Os sacerdotes fizeram uma série de perguntas ao diabo que possuía o garoto e, entre elas, uma foi sobre a Imaculada Conceição.

O diabo confessou que a Virgem de Nazaré jamais tinha estado sob seu poder: nem mesmo no primeiro instante de sua vida, pois ela já foi concebida “cheia de graça” e toda de Deus.

Embora seja o “pai da mentira”, o diabo pode ser obrigado no exorcismo a dizer a verdade, inclusive em matéria de fé. Foi assim que os dois sacerdotes exorcistas o obrigaram a reverenciar Nossa Senhora e a louvar a sua Conceição Imaculada na forma de versos.

Humilhado, o diabo se viu forçado em nome de Cristo a cantar a glória de Maria mediante um soneto em italiano, perfeito em construção e em teologia!

Reproduzimos o original italiano e, em seguida, a tradução ao português:

Em italiano:

Vera Madre son Io d’un Dio che è Figlio
e son figlia di Lui, benché sua Madre;
ab aeterno nacqu’Egli ed è mio Figlio,
in tempo Io nacqui e pur gli sono Madre.

Egli è mio creator ed è mio Figlio,
son Io sua creatura e gli son Madre;
fu prodigo divin l’esser mio Figlio
un Dio eterno, e Me d’aver per Madre.

L’esser quasi è comun tra Madre e Figlio
perché l’esser dal Figlio ebbe la Madre,
e l’esser dalla Madre ebbe anche il Figlio.

Or, se l’esser dal Figlio ebbe la Madre,
o s’ha da dir che fu macchiato il Figlio,
o senza macchia s’ha da dir la Madre.

Em português:

Sou verdadeira mãe de um Deus que é Filho,
E sou sua filha, ainda ao ser sua mãe;
Ele de eterno existe e é meu Filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.

Ele é meu Criador e é meu Filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu Filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.

O ser da mãe é quase o ser do Filho,
Visto que o Filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao Filho;

Se, pois, do Filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o Filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.

http://pt.aleteia.org/2015/12/15/o-surpreendente-dia-em-que-o-proprio-diabo-foi-obrigado-a-louvar-a-imaculada-conceicao-de-maria/

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A Igreja Católica: Construtora da Civilização (Completo e Legendado)

A Oração


A oração é necessária para a vida espiritual: é a respiração que permite que a vida do espírito se desenvolva, e atualiza a fé na presença de Deus e de seu amor.


1. O que é a oração [1]


Em português conta-se com dois vocábulos para designar a relação consciente e coloquial do homem com Deus: prece e oração. A palavra “prece" provem do verbo latino precor, que significa rogar, ir a alguém solicitando um benefício. O termo “oração" provem do substantivo latino oratio, que significa fala, discurso, linguagem.

As definições que se dão da oração costumam refletir estas diferenças de matiz que acabamos de encontrar ao aludir à terminologia. Por exemplo, São João Damasceno, considera-a como «a elevação da alma a Deus e a petição de bens convenientes»[2]; enquanto para São João Clímaco trata-se mais de uma «conversa familiar e união do homem com Deus»[3].

A oração é absolutamente necessária para a vida espiritual. É como a respiração que permite que a vida do espírito se desenvolva. Na oração atualiza-se a fé na presença de Deus e de seu amor. Fomenta-se a esperança que leva a orientar a vida para Ele e a confiar em sua providência. E se engrandece o coração ao responder com o próprio amor ao Amor divino.

Na oração, a alma, conduzida pelo Espírito Santo a partir do mais fundo de si mesma (cfr. Catecismo, 2562), une-se a Cristo, mestre, modelo e caminho de toda oração cristã (cfr. Catecismo, 2599 ss.), e com Cristo, por Cristo e em Cristo, dirige-se a Deus Pai, participando da riqueza do viver trinitário (cfr. Catecismo, 2559-2564). Daí a importância que na vida de oração tem a Liturgia e, em seu centro, a Eucaristia.

2. Conteúdos da oração


Os conteúdos da oração, como os de todo diálogo de amor, podem ser múltiplos e variados. Cabe, no entanto, destacar alguns especialmente significativos:

Petição.

É frequente a referência à oração impetratória ao longo de toda a Sagrada Escritura; também nos lábios de Jesus, que não só vai a ela, mas que convida a pedir, encarecendo o valor e a importância de uma prece singela e confiada. A tradição cristã reiterou esse convite, pondo-a em prática de muitas maneiras: petição de perdão, petição pela própria salvação e pela dos demais, petição pela Igreja e pelo apostolado, petição pelas mais variadas necessidades, etc.

De fato, a oração de petição faz parte da experiência religiosa universal. O reconhecimento, ainda que em ocasiões difusas, da realidade de Deus (ou mais genericamente de um ser superior), provoca a tendência a dirigir-se a Ele, solicitando sua proteção e sua ajuda. Certamente a oração não se esgota na prece, mas a petição é manifestação decisiva da oração assim como reconhecimento e expressão da condição criada do ser humano e de sua dependência absoluta de um Deus cujo amor a fé nos dá conhecer de maneira plena (cfr. Catecismo, 2629.2635).

Ação de graças.

O reconhecimento dos bens recebidos e, através deles, da magnificência e misericórdia divinas, impulsiona a dirigir o espírito a Deus para proclamar e lhe agradecer seus benefícios. A atitude de ação de graças cheia desde o princípio até o fim a Sagrada Escritura e a história da espiritualidade. Uma e outra põem de manifesto que, quando essa atitude arraiga na alma, dá lugar a um processo que leva a reconhecer como dom divino todos os acontecimentos, não somente aquelas realidades que a experiência imediata acredita como gratificantes, mas também as aparentemente negativas ou adversas.

Consciente de que o acontecer está situado sob o desígnio amoroso de Deus, o fiel sabe que tudo redunda no bem de quem –a cada homem– é objeto do amor divino (cfr. Rm 8, 28). « Habitua-te a elevar o coração a Deus em ação de graças, muitas vezes ao dia. - Porque te dá isto e aquilo. - Porque te desprezaram. - Porque não tens o que precisas, ou porque o tens. Porque fez tão formosa a sua Mãe, que é também tua Mãe. - Porque criou o Sol e a Lua e este animal e aquela planta. - Porque fez aquele homem eloquente e a ti te fez difícil de palavra... Dá-Lhe graças por tudo, porque tudo é bom. »[4].

Adoração e louvor.

É parte essencial da oração, reconhecer e proclamar a grandeza de Deus, a plenitude de seu ser, a infinitude de sua bondade e de seu amor. Ao louvor pode-se desembocar a partir da consideração da beleza e magnitude do universo, como acontece em múltiplos textos bíblicos (cfr., por exemplo, Sal 19; Se 42, 15-25; Dn 3, 32-90) e em numerosas orações da tradição cristã[5]; ou a partir das obras grandes e maravilhosas que Deus opera na história da salvação, como ocorre no Magnificat (Lc1, 46-55) ou nos grandes hinos paulinos (ver, por exemplo, Ef 1, 3-14); ou de fatos pequenos e inclusive miúdos nos que se manifesta o amor de Deus.

Em todo caso, o que caracteriza o louvor é que nele o olhar vai diretamente a Deus mesmo, tal e como é em si, em sua perfeição ilimitada e infinita. «O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediata­mente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mes­mo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele É » (Catecismo, 2639). Está, por isso, intimamente unida à adoração, ao reconhecimento, não só intelectual, mas existencial, da pequenez de tudo criado em comparação com o Criador e, em consequência, à humildade, à aceitação da indignidade pessoal ante quem nos transcende até o infinito; à maravilha que causa o fato de que esse Deus, ao que os anjos e o universo inteiro rendem homenagem, se dignou não só a fixar seu olhar no homem, mas habitar no homem; mais ainda, a se encarnar.

Adoração, louvor, petição, ação de graças resumem as disposições de fundo que informam a totalidade do diálogo entre o homem e Deus. Seja qual for o conteúdo concreto da oração, quem reza o faz sempre, de uma forma ou de outra, explícita ou implicitamente, adorando, louvando, suplicando, implorando ou dando graças a esse Deus ao qual reverencia, ao qual ama e no qual confia. Importa reiterar, ao mesmo tempo, que os conteúdos concretos da oração poderão ser muito variados. Em ocasiões se irá à oração para considerar passagens da Escritura, para aprofundar em alguma verdade cristã, para reviver a vida de Cristo, para sentir a proximidade de Santa Maria... Em outras, iniciará a partir da própria vida para participar a Deus das alegrias e os afãs, dos sonhos e os problemas que o existir comporta; ou para encontrar apoio ou consolo; ou para examinar ante Deus o próprio comportamento e chegar a propósitos e decisões; ou mais singelamente para comentar com quem sabemos que nos ama as incidências da jornada.

Encontro entre o que crê e Deus em quem se apóia e pelo que se sabe amado, a oração pode versar sobre a totalidade das incidências que conformam o existir, e sobre a totalidade dos sentimentos que pode experimentar o coração. « Escreveste-me: “Orar é falar com Deus. Mas de quê?" - De quê? DEle e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e ações de graças e pedidos; e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te - ganhar intimidade!"»[6]. Seguindo uma e outra via, a oração será sempre um encontro íntimo e filial entre o homem e Deus, que fomentará o sentido da proximidade divina e conduzirá a viver a cada dia da existência de cara a Deus.

3. Expressões ou formas da oração

Atendendo aos modos ou formas de manifestar-se a oração, os autores costumam oferecer diversas distinções: oração vocal e oração mental; oração pública e oração privada; oração predominantemente intelectual ou reflexiva e oração afetiva; oração regrada e oração espontânea, etc. Em outras ocasiões os autores tentam esboçar uma gradação na intensidade da oração, distinguindo entre oração mental, oração afetiva, oração de quietude, contemplação, oração unitiva...

O Catecismo estrutura sua exposição distinguindo entre: oração vocal, meditação e oração de contemplação. As três «tem um traço fundamental comum: o recolhimento do coração. Esta atenção em guardar a Palavra e permanecer na presença de Deus faz destas três expressões tempos fortes da vida de oração» (Catecismo, 2699). Uma análise do texto evidencia, pelo contexto, que o Catecismo ao empregar essa terminologia não faz referência a três graus da vida de oração, mas duas vias: a oração vocal e a meditação, apresentando ambas como aptas para conduzir a esse cume na vida de oração que é a contemplação. Em nossa exposição nos ateremos a este esquema.

Oração vocal

A expressão “oração vocal" aponta a uma oração que se expressa vocalmente, isto é, mediante palavras articuladas ou pronunciadas. Esta primeira aproximação, ainda sendo exata, não vai ao fundo do assunto. Pois, por um lado, todo dialogar interior, ainda que possa ser qualificado como exclusiva ou predominantemente mental, faz referência, no ser humano, à linguagem; e, em ocasiões, à linguagem articulada em voz alta, também na intimidade da própria estância. Por outro lado, deve-se afirmar que a oração vocal não é assunto só de palavras, mas sobretudo de pensamento e de coração. Daí que seja mais exato sustentar que a oração vocal é a que se faz utilizando fórmulas pré-estabelecidas tanto longas como breves (jaculatórias), tomadas da Sagrada Escritura (o Pai Nosso, ou a Ave Maria...), ou tomadas da tradição espiritual (o Veni Sancte Spiritus, a Salve, o Lembrai-vos...).

Tudo isso, como é óbvio, com a condição de que as expressões ou fórmulas recitadas vocalmente sejam verdadeira oração, isto é, que cumpram com o requisito de que quem as recita o faça não só com a boca mas com a mente e o coração. Se essa devoção faltasse, se não tivesse consciência de quem é Aquele a que a oração se dirige, de que é o que na oração se diz e de quem é aquele que a diz, então, como afirma com expressão gráfica Santa Teresa de Jesus, não se pode falar propriamente de oração «ainda que muito se mexam os lábios»[7].

A oração vocal possui um papel decisivo na pedagogia da prece, sobretudo no início do relacionamento com Deus. De fato, mediante a aprendizagem do sinal da Cruz e de orações vocais o menino, e com frequência também o adulto, se introduz na vivência concreta da fé e, portanto, da vida de oração. Não obstante, o papel e a importância da oração vocal não está limitada aos começos do diálogo com Deus, mas está chamada a acompanhar a vida espiritual durante todo seu desenvolvimento.

A meditação

Meditar significa aplicar o pensamento à consideração de uma realidade ou de uma ideia com o desejo de conhecê-la e compreendê-la com maior profundidade e perfeição. Para um cristão, a meditação – à que com frequência se designa também oração mental – implica orientar o pensamento para Deus tal e como se revelou ao longo da história de Israel e definitiva e plenamente em Cristo. E, desde Deus, dirigir o olhar à própria existência para valorizá-la e acomodar ao mistério de vida, comunhão e amor que Deus deu a conhecer.

A meditação pode desenvolver-se de forma espontânea, por motivo dos momentos de silêncio que acompanham ou seguem às celebrações litúrgicas ou a raiz da leitura de algum texto bíblico ou de uma passagem de algum autor espiritual. Em outros momentos pode concretizar-se mediante a dedicação de tempos especificamente destinados a isso. Em todo caso, é óbvio que – especialmente nos princípios, mas não só então – implica esforço, desejo de aprofundar no conhecimento de Deus e de sua vontade, e no empenho pessoal efetivo com vistas à melhora da vida cristã. Nesse sentido, pode afirmar-se que «a meditação é, sobretudo, uma busca» (Catecismo, 2705); contudo convém acrescentar que se trata não da busca de algo, mas de Alguém. Ao que tende a meditação cristã não é só, nem primariamente, a compreender algo (em última instância, a entender o modo de proceder e de se manifestar de Deus), mas se encontrar com Ele e, o encontrando, identificar com sua vontade e se unir a Ele.

A oração contemplativa

O desenvolvimento da experiência cristã, e, nela e com ela, o da oração, conduzem a uma comunicação entre o crente e Deus, a cada vez mais continuada, mais pessoal e mais íntima. Nesse horizonte situa-se a oração à que o Catecismo qualifica de contemplativa, que é fruto de um crescimento na vivência teologal do que flui um vivo sentido da cercania amorosa de Deus; em consequência, o relacionamento com Ele se faz a cada vez mais direto, familiar e confiado, e inclusive, para além das palavras e do pensamento reflexo, se chega a viver de fato em íntima comunhão com Ele.

«Que é esta oração?», interroga-se o Catecismo ao começo da parte dedicada à oração contemplativa, para responder em seguida afirmando, com palavras tomadas de Santa Teresa de Jesus, que não é outra coisa «senão tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós, com Quem sabemos que nos ama»[8]. A expressão oração contemplativa, tal e como a empregam o Catecismo e outros muitos escritos anteriores e posteriores, remete, pois ao que cabe qualificar como o ápice da contemplação; isto é, o momento no qual, por ação da graça, o espírito é conduzido até a ombreira do divino transcendendo toda outra realidade. Mas também, e mais amplamente, a um crescimento vivo e sentido da presença de Deus e do desejo de uma profunda comunhão com Ele. E isso seja nos tempos dedicados especialmente à oração, seja no conjunto do existir. A oração está, em suma, chamada a envolver à inteira pessoa humana – inteligência, vontade e sentimentos –, chegando ao centro do coração para mudar suas disposições, a informar toda a vida do cristão, fazendo dele outro Cristo (cfr. Ga 2,20).

4. Condições e características da oração


A oração, como todo ato plenamente pessoal, requer atenção e intenção, consciência da presença de Deus e diálogo efetivo e sincero com Ele. Condição para que tudo isso seja possível é o recolhimento. O vocábulo recolhimento significa a ação pela qual a vontade, em virtude da capacidade de domínio sobre o conjunto das forças que integram a natureza humana, tenta moderar a tendência à dispersão, promovendo dessa forma o sossego e a serenidade interiores. Esta atitude é essencial nos momentos dedicados especialmente à oração, cortando com outras tarefas e tentando evitar as distrações. Mas não tem de ficar limitada a esses tempos: mas que deve se estender, até chegar ao recolhimento habitual, que se identifica com uma fé e um amor que, enchendo o coração, levam a tentar viver a totalidade das ações em referência a Deus, já seja expressa ou implicitamente.

Outra das condições da oração é a confiança. Sem uma confiança plena em Deus e em seu amor, não terá oração, ao menos oração sincera e capaz de superar as provas e dificuldades. Não se trata só da confiança em que uma determinada petição seja atendida, senão da segurança que se tem em quem sabemos que nos ama e nos compreende, e ante quem se pode, portanto, abrir sem reservas o próprio coração (cfr. Catecismo, 2734-2741).

Em ocasiões, a oração é diálogo que brota facilmente, inclusive acompanhado de gozo e consolo, desde o fundo da alma; mas em outros momentos – talvez com mais frequência – pode reclamar decisão e empenho. Pode então insinuar-se o desalento que leva a pensar que o tempo dedicado ao trato com Deus carece sentido (cfr.Catecismo, n. 2728). Nestes momentos, põe-se de manifesto a importância de outra das qualidades da oração: a perseverança. A razão de ser da oração não é a obtenção de benefícios, nem a busca de satisfações, complacências ou consolos, mas a comunhão com Deus; daí a necessidade e o valor da perseverança na oração, que é sempre, com fôlego e gozo ou sem eles, um encontro vivo com Deus (cfr. Catecismo, 2742-2745, 2746-2751).

Um traço específico, e fundamental, da oração cristã é seu caráter trinitário. Fruto da ação do Espírito Santo que, infundindo e estimulando a fé, a esperança e o amor, leva a crescer na presença de Deus, até se saber ao mesmo tempo na terra, na que se vive e trabalha, e no céu, presente pela graça no próprio coração[9]. O cristão que vive de fé, se vê convidado a tratar aos anjos e aos Santos, a Santa Maria e, de modo especial, a Cristo, Filho de Deus encarnado, em cuja humanidade percebe a divindade de sua pessoa. E, seguindo esse caminho, a reconhecer a realidade de Deus Pai e de seu infinito amor, e a entrar a cada vez com mais profundidade em um trato confiado com Ele.

A oração cristã é por isso e de modo eminente uma oração filial. A oração de um filho que, em todo momento – na alegria e na dor, no trabalho e no descanso – se dirige com singeleza e sinceridade a seu Pai para colocar em suas mãos os afazeres e sentimentos que experimenta no próprio coração, com a segurança de encontrar nele entendimento e acolhida. Mais ainda, um amor no que tudo encontra sentido.

José Luis Illanes

Bibliografía básica

Catecismo da Igreja Católica, 2558-2758.

Leituras recomendadas


São Josemaria, Homilias O triunfo de Cristo na humildade; A Eucaristia, mistério de fé e amor; A Ascensão do Senhor aos céus; O Grande Desconhecido e Por Maria, para Jesus, em É Cristo que passa, 12-21, 83-94, 117-126, 127-138 e 139-149; Homilias O trato com Deus; Vida de oração e Rumo à santidade, em Amigos de Deus, 142-153, 238-257, 294-316.

J. Echevarría, Itinerarios de vida espiritual, Planeta, Barcelona 2001, pp. 99-114.

J.L. Illanes, Tratado de teología espiritual, Eunsa, Pamplona 2007, pp. 427-483.

M. Belda, Guiados pelo Espírito de Deus. Curso de Teología Espiritual, Palavra, Madri 2006, pp. 301-338.

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[1] A Igreja professa sua Fé no Símbolo dos Apóstolos (Primeira parte destes guias). Celebra o Mistério, isto é, a realidade de Deus e de seu amor à que nos abre a fé, na Liturgia sacramental (Segunda parte). Como fruto dessa celebração do Mistério os fiéis recebem uma vida nova que lhes leva a viver de acordo com a condição de filhos de Deus (Terceira parte). Essa comunicação ao homem da vida divina reclama ser recebida e vivida em atitude de relação pessoal com Deus: esta relação expressa-se, desenvolve e potência na oração (Quarta parte).

[2] São João Damasceno, De fide orthodoxa, III, 24; PG 94,1090.

[3] São João Clímaco, Scala paradisi, grau28; PG 88, 1129.

[4] São Josemaria, Caminho, 268.

[5] Remetemos a dois das mais claras e conhecidas: os “Louvores ao Deus Altíssimo" e o “Cântico do irmão sol" de São Francisco de Assis.

[6] São Josemaria, Caminho, 91.

[7] Santa Teresa de Jesus, Primeiras Moradas, c. 1, 7, em Obras completas, ed. de Efrén da Mãe de Deus e Ou. Steggink, Madri 1967, p. 366.

[8] Santa Teresa de Jesus, Livro da vida, c. 8, n. 5, em Obras completas, p. 50; cfr. Catecismo, 2709.

[9] Cfr. São Josemaria, Questões Atuais do Cristianismo, 116.

fonte: http://opusdei.org.br/pt-br/article/tema-39-a-oracao/

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O caso Galileu - ciência e fé incompatíveis?

Por Vittorio Messori

Voltaire

Um dos pais do racionalismo iluminista, e, portanto, um dos autores da “lenda negra” sobre Galileu, é Voltaire, o mesmo que qualificara de charlatães os primeiros estudiosos de geologia, que sustentavam, com razão, a origem marinha dos fósseis encontrados nas escavações. O“filósofo das luzes” rechaçava aquelas “fábulas próprias de padres”, ao assegurar, todo solene, que se tratavam de pequenas conchas perdidas pelos peregrinos que seguiam o caminho de Santiago de Compostela…

Quando os discípulos de Voltaire chegaram ao poder, guilhotinaram, no dia 08 de maio de 1794, um homem de cinquenta anos: Antoine Laurent Lavoisier. Ou seja, a maior personalidade científica da França, e, provavelmente, da Europa, o fundador da química moderna, o descobridor da fórmula da água, autor do novo sistema de pesos e medidas. Lavoisier solicitou ao juiz que o condenava à morte, um adiamento de 15 dias na sua execução, para poder finalizar uma importante investigação que estava levando a cabo. “A República não tem necessidade de cientistas!” respondeu-lhe o “jacobino ilustrado”, apontando-lhe o caminho do patíbulo.

Seria esse um caso isolado? E o que dizer então de Condorcet, também condenado à morte na época do Terror, ele que era um grande cientista e matemático, mas que se tornou culpado por ser “girondino”, ou seja, não suficientemente radical na luta contra o “obscurantismo”?

O caso Galileu foi idealizado contra a Igreja, primeiro pelo liberalismo burguês (da Revolução Francesa) e depois pelo marxismo. Durante décadas, gerações de “progressistas” assistiram entre comovidas e indignadas, às representações de “Galileu Galilei”, o drama de Bertold Brecht.
Bertold Brecht

É uma lástima, no entanto, que ninguém nunca se lembre de que o autor daquela “denúncia” recebeu o Prêmio Stalin das mãos do próprio ditador em Moscou, e que a versão definitiva daquela obra foi representada, em 1957, naquela“capital dos direitos humanos e da liberdade de pensamento” que era Berlim Oriental. E que, no frigir dos ovos, foi encenada às expensas daquele “Estado democrático”alemão que pagava a Brecht todos os gastos de seu teatro, o Berliner Ensemble, que contava com centenas de empregados.

Esses são os púlpitos que nos admoestam com críticas raivosas e lições de“tolerância cívica”!

Mas, continuando com o Galileu da História e não o da lenda: ele foi convocado (não ficou nem por uma hora no cárcere) diante do tribunal, mas não por causa de suas afirmações. Tem que ser dito que a teoria“Heliocêntrica” (o Sol como centro, contrapondo-se à teoria “Geocêntrica”, a Terra como centro) de Copérnico, um fervoroso padre polonês, que tinha o seu observatório na torre de uma catedral, que dedicou sua principal obra ao Papa Paulo III, colega “astrônomo”, e que obteve sem problemas oimprimatur dos censores da Igreja, era defendida por Papas e Cardeais, como investigadores particulares, e era discutida com toda a tranquilidade nas próprias universidades pontifícias.
Galileu Galilei

O próprio Galileu, que morreu aos 78 anos, na sua cama, em uma esplêndida vila, com as bênçãos pontifícias e murmurando como últimas palavras os nomes de Jesus e de Maria, era membro da Academia Pontifícia de Ciências. Havia chegado aos 70 anos sem nenhum tipo de problema com as autoridades eclesiásticas, entre as quais se contavam como fieis admiradores e poderosos protetores, vários Bispos e Cardeais. Apenas uma vez (e só essa vez) recomendaram que tivesse prudência; uma advertência em nome do rigor e da seriedade científicos.

A guerra foi declarada por seus colegas laicos da não menos laica Universidade de Pádua. Também o perseguia, sobretudo, a ameaçadora hostilidade do biblismo protestante. Em Roma, durante e depois do processo, ficou alojado nos palácios pontifícios e cardinalícios; se fosse nas cidades da Reforma, terminaria na fogueira ou, no mínimo, no cárcere. O próprio Lutero proferiu palavras raivosas contra Copérnico, aquele “padre amigo de padres” que afirmava coisas que contradiziam a Escritura.

E Melanchton, o principal teólogo do frade rebelde, ao considerar os católicos demasiadamente tolerantes, lançou essa ameaça: “Entre nós, semelhantes fantasias sacrílegas não teriam permanecido impunes”. Quando a notícia da condenação de Galileu chegou a Tübingen, a Universidade bastião e luminária do pensamento protestante, os professores celebraram com uma grande festa e (por uma vez) se viu os luteranos congraçarem-se com os católicos… Recordo isso para chamar a atenção a propósito de determinadas tribunas para as quais o catolicismo, e apenas ele, é a “Grande Besta do Apocalipse que oprime a liberdade dos Filhos de Deus”.

As desventuras de Galileu em Roma foram relativas: retirar-se a sua vila e recitar uma vez por semana os sete salmos penitenciais, podendo, contudo, continuar com seu trabalho; e de fato, sua maior obra foi escrita depois dessa condenação. Tais desventuras não lhe recaíram por suas afirmações, mas pela maneira que as fez, com uma espécie de fideísmo dogmático, pela soberba de tentar ser ele mesmo um “enviado do Verbo” de uma ciência que continuava sendo hipotética.

Pretendia mesclar conhecimentos derivados da observação da natureza com a teologia, e construir um dogma científico para o que até então era simplesmente uma hipótese, sem provas experimentais. A única “prova”científica que Galileu levou ao processo, em quatro dias de discussão, a ocorrência das marés como originadas pelo movimento da Terra, estava errada, já que tinham razão os juízes ao atribuir o ascenso e descenso das águas marinhas à atração da lua. Não por acaso, o filósofo moderno Karl Popper desaprovou a atitude de Galileu ao ver nela a origem da nova, e muito perigosa, como em breve seria comprovado, “religião da ciência”: o“cientificismo”.
Karl Raimund Popper

Ademais, Roberto Belarmino, o sapientíssimo e santo Cardeal que lhe protegia, assim como muitos Papas e Bispos, ao tentar defendê-lo sobretudo de si mesmo, de sua teimosia (e também de seus intentos de desvirtuar os fatos que acabaram por lhe indispor com os juízes), havia adotado na ocasião uma esclarecedora expressão. A mesma que outro Cardeal e também notável investigador, Cesare Baronio, utilizou para sintetizar a postura católica diante da nascente ciência moderna: “A Bíblia não pretende ensinar-nos como se move o céu, mas como se chega até ele”.

A própria existência das monumentais “Summae” medievais (que não eram apenas obras teológicas mas, com frequência, autênticas enciclopédias de todo o saber conhecido), demonstra que a Igreja nunca se deixou levar pela tentação de estabelecer um antagonismo entre a investigação (em todos os campos) e a religiosidade. Sempre ensinou que tanto a fé quanto a razão são um dom de Deus, e, em consequência, nunca pode haver oposição entre elas.

A segurança do cristão está no fato de o Deus da Revelação ser também o Deus da Criação, por consequência, das ciências naturais, enquanto um estudo das maravilhas da Sabedoria divina. São, de alguma maneira, atos de culto e motivos de reflexão religiosa. Essa é também a razão porque as obras de matemática e geometria dos sábios da antiguidade (Euclides, o primeiro deles) chegaram até nós, copiadas com entusiamo pelos monges medievais e mais tarde, quando foi possível, impressas e difundidas por outros religiosos. E é também por isso que na época de Galileu, havia na Europa 108 universidades, uma criação característica dos católicos medievais, algumas na América espanhola, mas nenhuma nas terras não cristãs.

(Texto extraído do livro “Algunas Razones Para Creer”.)

(Veja também os demais artigos da Coleção Igreja Hoje.)

(Curta a página Vittorio Messori em português.)
fonte: https://medium.com/igreja-hoje/o-caso-galileu-584419805a43

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O que é o pecado contra o Espírito Santo?

Por Prof. Felipe Aquino


Algumas pessoas nos perguntam o que é este pecado.
Antes de tudo é preciso entender que não é um pecado como os demais; isto é, um ato: roubar, matar, prostituir, adulterar, corromper, mentir, etc.
Trata-se de uma ofensa grave ao próprio Deus na Pessoa do Espírito Santo. De que forma?
No §1864 o Catecismo da Igreja explica:
“Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não terá remissão para sempre. Pelo contrário, é culpado de um pecado eterno” (Mc 3,29). A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento, rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna”.
Portanto, o pecado contra o Espírito Santo é o endurecimento do coração. Não que a misericórdia de Deus seja insuficiente para amolecer esse coração empedernido, mas é a pessoa que não se abre para acolher o perdão e a misericórdia de Deus. É o caso do pecador que não se arrepende dos seus pecados, mesmo tendo consciência deles, sabendo que está errado e agindo deliberadamente contra a vontade de Deus.
Os Evangelhos nos mostram alguns casos de pessoas que endureceram o coração diante de Jesus, mesmo vendo seus estupendos milagres, deliberadamente não quiseram dar-lhe crédito, e preferiram tramar a sua morte, por conveniência e por inveja.
Um caso marcante é o que São João conta sobre a ressurreição de Lázaro de Betânia. Este ressuscitado era a prova cabal da divindade de Jesus; um milagre realizado bem perto de Jerusalém, e que muitos judeus presenciaram.
Muitos deles creram em Jesus, como conta S. João:
“Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele”. (Jo 11,45)
Mas algumas autoridades judaicas, ao invés de ceder às evidências do milagre, por conveniência, para manter seu “status-quo”, preferiram tramar a morte do Senhor. Diz S. João:
“Alguns deles, porém, foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus realizara. Os pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: Que faremos? Esse homem multiplica os milagres. Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação… E desde aquele momento resolveram tirar-lhe a vida”. (Jo 11, 47s)
E o mais interessante é que as autoridades judaicas procuravam também tirar a vida de Lázaro por que ele era a prova do milagre de Jesus.
“Uma grande multidão de judeus veio a saber que Jesus lá estava; e chegou, não somente por causa de Jesus, mas ainda para ver Lázaro, que ele ressuscitara.   Mas os príncipes dos sacerdotes resolveram tirar a vida também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus” (Jo 12, 9-11).
Este me parece um caso típico de endurecimento do coração e pecado contra o Espírito Santo.
Outro modo de atentar contra o Espírito Santo é se desesperar da própria salvação, achando que o seu pecado é tão grande que a misericórdia de Deus já não o pode perdoar. É o pecado da desesperança. Qualquer pecado por pior que seja pode ser perdoado por Deus se a pessoa se arrepende verdadeiramente.
Um belo exemplo disso é São Pedro; depois de negar o Mestre, tristemente, por três vezes, se arrependeu, chorou amargamente, e acreditou no perdão e na misericórdia de Deus. Judas, ao contrário, se desesperou e foi se matar. Ambos pecaram gravemente, mas um se desesperou e o outro confiou no perdão de Deus.
O nosso belo Catecismo diz que:
“Não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. “Não existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com segurança a seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero.” Cristo que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado”. (§982)
Portanto, ninguém pode se desesperar da própria salvação, mesmo que tenha pecado gravemente e de muitas maneiras. O Coração Sagrado de Jesus está sempre aberto para nos dar a sua misericórdia quando voltamos a ele arrependidos como o filho pródigo.
 Prof. Felipe Aquino
*Autoriza-se a publicação desde que cite a fonte
fonte: http://cleofas.com.br/o-que-e-o-pecado-contra-o-espirito-santo-2/