sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete
Achei muito interessante esse texto extraído do livro “O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo e queria muito compartilhar com vocês.
“Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema…Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir…Mas a vida… sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente…Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte.
As vezes o ídolo da família, o bonzinho, o bola cheia que sempre ajudou azedou a comida só porque meteu a colher. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
Como entender o Apocalipse?
“O Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade”
A interpretação do Apocalipse requer critérios precisos deduzidos deste gênero literário. A palavra grega “apokálypsis” quer dizer revelação. O Apocalipse quer incutir nos leitores uma confiança inabalável na Providência Divina em tempos difíceis para os cristãos. Não vamos aqui analisar os simbolismos dos números, animais, aves, monstros, etc..
No fim do século I era cada vez mais difícil a situação dos cristãos no Império Romano por causa da terrível perseguição pelos imperadores romanos. Tudo começou com Nero, no ano 64, e São João escreveu estando exilado na ilha de Patmos, no mar Egeu, na terrível perseguição de Domiciano (81-96). Muitos cristãos desanimados, abandonavam a fé (apostasia) e aderiam às prática pagãs. Foi em tais circunstâncias sombrias que São João escreveu o Apocalipse.
O livro visava encorajar os fiéis. O Apocalipse é, basicamente, “o livro da esperança cristã” ou da confiança inabalável no Senhor Jesus e nas suas promessas de vitória. Ele quer anunciar a “vitória do Bem sobre o mal”, do reino de Cristo sobre o reino do Mal.
Nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19-3,22: revisão de vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve em estilo sapiencial e pastoral; 4,1-22,15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita para a qual se volta a nossa atenção: 4,1-5,14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro “de pé, como que imolado” (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio do Senhor, que é o Rei dos séculos. A parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança; qualquer quadro de desgraça está subordinado a isso.
O núcleo central do sentido do Apocalipse apresenta, sob forma de símbolos, a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o eixo de toda a história. Os sete selos revelam esta luta. A seguir, de 17,1 a 22,17, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal: 17,1-19,10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã); 19,11-21: a queda das duas Bestas que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do império); 20,1-15: a queda do Dragão, instigador do mal.
A seção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém celeste, Esposa do Cordeiro o oposto da Babilônia pervertida. Os versículos 22,16-21 constituem o epílogo do livro.
Em resumo, as calamidades que o Apocalipse apresenta a se desencadear sobre o mundo, não podem ser interpretadas ao pé da letra. Unindo as aflições na terra e alegria no céu, quer dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão de acordo com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, dentro de um plano harmonioso, onde nada escapa, embora não entendamos.
Ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos não devem desanimar. Foi uma forma de consolo que o Apocalipse queria incutir aos seus leitores; não só do século I, mas de todos os tempos da história; isto é, os acontecimentos que nos atingem aqui na terra fazem parte da luta vitoriosa do Bem sobre o mal; é a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c.5). Os cristãos na terra gemem, mas os bem-aventurados na glória cantam aleluia.
No céu os justos não se desesperam com que acontece com os que sofrem na terra; antes, continuam a cantar jubilosamente a Deus porque percebem o sentido das nossas tribulações. O Apocalipse quer mostrar que essa mesma paz do céu deve ser também a dos cristãos na terra, porque, embora vivam no mundo presente, já possuem em suas almas a eternidade e o céu em forma de semente, pela graça santificante, que é a semente da glória celeste.
Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade. A vida do cristão é celeste, deve ser tranquila, como a vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos possuem na terra em gérmen.
A sua mensagem básica do Apocalipse é esta: as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo “faz concorrer para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28).
Prof. Felipe Aquino
http://cleofas.com.br/como-entender-o-apocalipse/
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