Revelado o Mistério Cristão
Sources Chretiennes revela autor e datação da Carta a
Diogneto
Há um escrito apologético que explica o que é o
cristianismo melhor do que qualquer texto moderno. Chama-se "carta à
Diogneto", mas um profundo mistério envolve este pequeno escrito, que
ainda hoje, data, autor, origem e o caráter mesmo estão ainda sujeitos a vivas
discussões.
Para explicar o "mistério cristão", o
desconhecido autor escreve, a um destinatário chamado Diogneto: "Os
cristãos nem por razão, nem por linguagem, nem por costumes se distinguem dos
outros homens. De fato, não habitam cidades próprias, nem usam um jargão que se
diferencia, nem conduzem um gênero de vida especial. A sua doutrina não está na
descoberta do pensamento de homens vários, nem eles aderem a uma corrente
filosófica humana, como fazem os outros. Vivendo em cidades gregas e bárbaras,
como correspondeu a cada um, e seguindo os costumes do lugar no vestido, na
comida e no resto, testemunham um método de vida social admirável e sem dúvida
paradoxal".
E ainda: "Casam-se como todos e geram filhos, mas
não jogam fora os bebês. Colocam em comum a mesa, mas não a cama. Estão na
carne, mas não vivem segundo a carne. Habitam na terra, mas tem a sua cidadania
no céu. Obedecem às leis estabelecidas, e com a sua vida superam as leis. Amam
a todos, e por todos são perseguidos. Não são conhecidos, e são condenados. São
mortos, e retornam a vida. São pobres, e fazem a muitos ricos; Não têm nada, e
abandonam tudo. São desprezados, e nos desprezos têm glória. São ultrajados e
proclamados justos. São injuriados e abençoam; são maltratados e honram.
Fazendo o bem são punidos como malfeitores; condenados se alegram como se
recebessem a vida..."
Verdades que mostram a admiração que os cristãos geravam
entre os pagãos do tempo, mas também conceitos que são de grandíssima
relevância, especialmente no contexto de um projeto de uma "Nova
Evangelização".
Após a "editio princeps" (primeira edição
impressa) do 1592 a "Carta a Diogneto" foi republicada totalmente ou
em parte, pelo menos, 65 vezes, a sua bibliografia ultrapassa a cifra de 250
publicações.
A sua história é incrível e lendária.
Por volta de 1436 um jovem clérigo chamado Thomas d'Arezzo, que estava em
Constantinopla para estudar o grego, descobriu o manuscrito em uma peixaria no
meio de uma pilha de papel de embrulho.
O clérigo em questão partiu depois de missão junto aos
muçulmanos e entregou o manuscrito a um teólogo dominicano, o futuro Cardeal
Giovanni Stojkovic de Ragusa.
Este último levou-o consigo ao Concílio de Basileia e passou-o para o humanista
Giovanni Reuchlin.
Entre 1560 e 1580 o manuscrito foi encontrado na abadia
de Marmoutier na Alsácia, e entre 1793 e 1795 foi transferido para a biblioteca
municipal de Estrasburgo.
No 24 de Agosto de 1870, durante a Guerra
Franco-Prussiana, o fogo da artilharia prussiana incendiou a biblioteca, no
qual também se destruiu o manuscrito da carta. Apesar da perda da original, o
texto da carta é certo porque no século XVI fizeram-se ao menos três cópias. A
primeira feita provavelmente em 1579 por Bernard Haus por conta de Martin
Crusius, foi redescoberta três séculos mais tarde da C. I. Neumann e se
encontra ainda hoje na Biblioteca universitária de Tubingen.
A segunda foi realizada em 1586 por Henri Estienne pela
editio princeps da obra, que foi publicado em 1592: cheia de anotações de
leitura e de propostas de correções, essa se encontra hoje em Leida.
A terceira, feita por J. J. Beurer entre 1586 e 1592,
perdeu-se, mas o autor tinha comunicado, com suas próprias anotações, a
Estienne e a Friedrich Sylburg, e este último publicou uma edição própria em
1593. Os dois estudiosos marcaram nas suas edições uma parte das notas de
Beurer. Para desvendar o mistério, contar a história, procurar as fontes,
identificar o autor e o destinatário, as edições francesas de autoridade,
"Sources Chrétiennes", publicaram o livro "Para Diogneto",
com introdução, edição crítica e comentários do especialista em história do
cristianismo primitivo, Henri-Irénée Marrou.
O livro em questão foi traduzido e publicado na Itália
pela Editora San Clemente e pelas Edições Studio Domenicano. A tradução foi
feita por Maria Benedetta Artioli.
Segundo o autor, "a carta a Diogneto" poderia
ter sido escrita em Alexandria, num período entre os anos 90 e 200, e o seu
destinatário deveria ter sido o Procurador Equestre Claudio Diogneto que no 197
estava em função do Grande Sacerdote do Egito.
Para Henri-Irénée Marrou o texto apresenta "uma
incontestável afinidade global e pontos de contato parciais mas numerosos como
o conjunto da literatura apologética dos anos 120-210, muito semelhante aos
fragmentos da 'Pregação de Pedro' e Aristide".
Durante anos este texto tem sido atribuído a São Justino,
mas agora está certo que o filósofo e mártir Justino não tem nada a ver. O
autor é provavelmente um contemporâneo de Hipólito de Roma e de Clemente de
Alexandria e segundo o livro de Sources Chrétiennes, seria Panteno, mestre de
Clemente.
De Panteno Clemente escreve "o último que conheci,
mas o primeiro em potência. O descobri no Egito, onde ele estava escondido...
Era uma verdadeira abelha siciliana, colhia as flores no prado dos profetas e
dos apóstolos e gerava na alma dos seus ouvintes um mel puro ... "
Na conclusão Marrou explica que não surpreende o
interesse ao cristianismo de um administrador romano, num período de conversões
nos quais a mesma imperatriz mãe Julia Mamaea (ou Giulia Mamea) apelava ao
ensinamento de Origenes.
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Por Antonio Gaspari
Tradução TS
Fonte: cléofas