sábado, 2 de agosto de 2014

De onde vieram os quatros símbolos dos Evangelhos?


Como foram atribuídos os símbolos dos quatro Evangelhos? A arte cristã sempre representou cada evangelista por um ser vivente: São Mateus é simbolizado por um homem; São Marcos, por um leão; São Lucas, por um touro; e São João, por uma águia.
O fundamento desses ícones é bíblico. O livro do Apocalipse de São João, por exemplo, traz a visão de quatro seres viventes que rendiam glória a Deus:
“O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. (...) Não cessavam de clamar dia e noite: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, o que é, o que era e o que deve voltar.” [1]
Os mesmos quatro animais estão em outra visão do profeta Ezequiel:
“Distinguia-se no centro a imagem de quatro seres que aparentavam possuir forma humana. (...) Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia.” [2]
Mas, afinal, por que esses quatro animais foram identificados com os evangelistas? O primeiro autor cristão a utilizar essa analogia foi Santo Irineu de Lião [3], seguido por Santo Agostinho [4]. Os dois, no entanto, associaram os animais aos evangelistas de forma diferente da que se usa hoje, posto que a ordem dos Evangelhos, no começo da Igreja, ainda não estava bem definida.
Foi São Jerônimo quem começou a tratar os evangelistas da forma como são tratados hoje. São Gregório Magno explica com clareza por que referenda a sua atribuição:
“Que na verdade estes quatro animais alados simbolizam os quatro santos evangelistas, é o que demonstra o próprio início de cada um destes livros dos evangelhos. Mateus é corretamente simbolizado pelo homem porque ele inicia com a geração humana; Marcos é corretamente simbolizado pelo leão, porque inicia com o clamor no deserto; Lucas é bem simbolizado pelo bezerro, porque começa com o sacrifício; João é simbolizado adequadamente pela águia, porque começa com a divindade do Verbo, dizendo: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus’ (Jo 1, 1), e assim tem em vista a substância divina, fixando o olhar no sol à maneira de uma águia.”
Na mesma homilia, o Papa e doutor da Igreja vai ainda mais fundo na meditação da profecia de Ezequiel:
“Mas, já que todos os eleitos são membros do nosso Redentor e o próprio nosso Redentor é a cabeça de todos os eleitos, através daquilo que simboliza os seus membros nada impede que neles todos ele também seja simbolizado. Assim, o próprio Filho Unigênito de Deus se fez verdadeiramente homem; ele se dignou morrer como bezerro como sacrifício de nossas redenção; ele, pelo poder de sua força, ressuscitou como leão.”
“Conta-se que o leão dorme até mesmo de olhos abertos, assim, o nosso Redentor pela sua humanidade pôde dormir na própria morte, e pela sua divindade ficou acordado permanecendo imortal. Ele também depois de sua ressurreição subindo aos céus, foi elevado às alturas como uma águia. “
“Portanto, ele é inteiramente para nós, seja nascendo como homem, seja morrendo como bezerro, seja ressuscitando como leão, seja subindo aos céus como águia.”
“Mas, (...), estes animais simbolizam os quatro evangelistas e ao mesmo tempo, através deles, todos as pessoas perfeitas. Falta-nos então demonstrar como cada um dos eleitos se encontram nesta visão dos animais.”
“De fato, cada pessoa eleita e perfeita no caminho de Deus é seja homem, seja bezerro, seja leão, seja águia. De fato o homem é um animal racional. O bezerro é o que se costuma oferecer em sacrifício. O leão é a mais forte das feras, como está escrito: ‘O leão, o mais bravo dos animais, que não recua diante de nada’ (Pr 30, 30). A águia voa para as alturas, e sem piscar dirige seus olhos aos raios do sol. Assim, todo o que é perfeito na inteligência é homem. E quando mortifica a si mesmo e a concupiscência deste mundo é bezerro. É leão porque, por sua própria e espontânea mortificação, tem a fortaleza da segurança contra todas adversidades, como está escrito: ‘O justo sente-se seguro e sem medo como um leão’ (Pr 28, 1). É águia porque contempla de forma sublime as coisas celestes e eternas. Sendo assim, qualquer justo é verdadeiramente constituído homem pela razão, bezerro pelo sacrifício de sua mortificação, leão pela segurança da fortaleza, águia pela contemplação. Assim, através destes santos animais, se pode simbolizar cada um dos perfeitos.” [5]
Agradeçamos a Deus pelo envio de Seu Verbo, manifestado a nós pelo dom de um “Evangelho quadriforme”, como diz Santo Irineu de Lião, lembrando sempre que nenhum livro é capaz de conter Jesus Cristo [6].
Referências

1.  Ap 4, 7-8
2.  Ez 1, 5.10. Trata-se de uma visão provavelmente influenciada pela cultura assíria – lembrar que, nessa época, o povo de Deus estava exilado na Síria –, que tinha o Lamassu, um touro com cabeça de homem, patas de leão e asas de águia, como divindade protetora.
3.  Contra as Heresias, 3.11.8
4.  O Consenso dos Evangelistas, 1.6.9
5.  São Gregório Magno, Homilia sobre Ezequiel, 4.1-2
6.  Cf. Jo 20, 30-31

fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/de-onde-vieram-os-quatro-simbolos-dos-evangelhos?utm_content=buffer22ea3&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer

terça-feira, 15 de julho de 2014

Cafeeiro - da flor ao fruto maduro

Este pé de café está plantado no jardim de minha casa, a semente eu trouxe da Fazenda Monte Belo, Colina SP, no ano de 1976. Essa semente foi da primeira colheita de uma lavoura que o sr. João Ademar havia plantado bem ao lado do Grupo Escolar do Monte Belo. Este cafeeiro está produzindo ja a mais de trinta anos. Eu já podei, e também já cortei três ou quatro vezes; sempre que fica alto e feio eu corto e ele brota, formando novamente um pé robusto e formoso e produz bastante.
café abotoado 
café florido
 café grãos pequenos
café grãos bem granados
 frutos em maturação
 grãos em cereja
frutos maduros - fazer a colheita 
 estendido no terreiro
café em processo de secagem
café seco

Liturgia




A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA E A CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA



Neste artigo abordaremos, sob alguns poucos aspectos, a Renovação Carismática em face da Renovação Litúrgica do Concílio Vaticano II com desejo de lançar uma maior luz sobre algumas questões práticas tais como musicalidade, gestos, palmas, abordando, até, a questão das manifestações carismáticas e as “Missas de Cura e Libertação”. Boa leitura.

O início da Renovação Carismática e a Renovação Litúrgica do Concílio Vaticano II

Em seu livro Renovación en el Espíritu Santo a teóloga espanhola Denise S. Brakebrough dedica todo o primeiro apartado do mesmo a falar dos antecedentes históricos da Renovação Carismática Católica¹. Três professores da Universidade de Duquesne e do Espírito Santo em Pittsburgh, Pensilvânia, foram as primeiras sementes daquele que foi o marco inicial (e não a fundação!) da Renovação Carismática Católica, tal como a conhecemos hoje. São eles: William G. Storey, Ralph Keifer e Patrick L. Bourgeois.

Finalizando o Concílio Vaticano II e impactados por seus ensinamentos, três professores leigos, de Filosofia e Teologia, membros da Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, William G. Storey, Ralph Keifer e Patrick L. Bourgeois, que desde o outono de 1966 se reuniam com frequência em grupos de oração, pensaram em “fazer algo”. Há necessidade de mencionar-se que, durante a década dos anos sessenta, havia se produzido, nos Estados Unidos, uma onda de entusiasmo pelas vigílias bíblicas e os encontros de oração. Este era o ambiente que reinava [...] Fomentava-se a atividade litúrgica, o testemunho cristão e a ação social.

... Ditos professores começaram a pedir, em oração, que o Espírito Santo lhes concedesse essa renovação e que o vazio que sentiam fosse preenchido pelo Senhor ressuscitado. Para isso, começaram a rezar o “Vem, Espírito Santo”, da sequência que se recita na liturgia do domingo de Pentecostes. Ao mesmo tempo, esmeraram-se no estudo do Novo Testamento, especialmente as partes que detalhavam a vida da Igreja primitiva dos primeiros séculos.

William G. Storey era professor de Teologia e sua especialização era justamente a Liturgia. Segundo Storey, seu entusiasmo pela experiência que hoje se denomina Renovação era alimentado por seus estudos no que tange às origens e desenvolvimento das liturgias orientais e ocidentais e a sua triste constatação de que havia um declínio acontecendo com a nossa forma litúrgica de transmitir ao homem hodierno os mistérios celebrados e que havia, portanto, uma desesperada necessidade de uma profunda revitalização. As reformas propostas pelo Concílio Vaticano II foram motivo de enorme entusiasmo. William via que as diversas tradições cristãs (orientais e ocidentais, Católicas, Ortodoxas e protestantes) deveriam oferecer seus tesouros espirituais mutuamente (também o Frei Raniero Cantalamessa comenta num de seus artigos a respeito da capacidade de Deus de tirar algo grandioso daquilo que foi um mal – a nossa divisão – uma vez que cada tradição cristã desenvolveu algum aspecto da vida cristã com maior ênfase; a nossa unidade trará grande benefício a Igreja).

O Concílio Vaticano II nos ofereceu o Missal de Paulo VI com o único desejo de aumentar a participação do povo de Deus na celebração da Divina Liturgia. Durante muito, mas muito tempo, o povo simples e humilde (ou seja, 90% dos Latino Americanos, o que significa dizer que estamos falando da esmagadora maioria dos católicos do mundo) “assistia” a Santa Missa; conseguiam entender em que "parte" da missa o Padre se encontrava, é evidente, e tiravam proveito, quem sabe, da homilia e da comunhão eucarística. Contudo, a maioria das pessoas rezava o terço enquanto o padre “dizia a missa”. Nenhum conservador realmente honesto pode desdizer esses fatos.

Deste modo, o povo católico “ficou” com aquilo que lhe era mais tangível: os devocionais voltados aos santos, as procissões, enfim, tudo isto que forma parte daquilo que chamamos de religiosidade popular. É o Documento da V Conferencia do Episcopado Latino Americano e Caribenho – e não eu! – quem identifica este fenômeno como uma das causas principais do “desmoronamento” da fé católica, com o consequente crescimento das seitas (pois o povo tem sede do conhecimento de Deus).

O Missal de Paulo VI e suas mudanças, contudo, “mudaram” essa realidade? Trouxeram o povo católico a um maior entendimento dos mistérios celebrados na "Divina Liturgia"? Será que o povo não está mergulhado numa religiosidade meramente popular – ainda – e o crescimento das seitas não está cada vez mais em ascensão?

O Papa Emérito Bento XVI, na última catequese, falou-nos sobre a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II (e o ambiente de entusiasmo que havia sobre isto). Dizia o Papa que não bastava traduzir a missa e disponibilizá-la na língua materna de cada nação; tão pouco bastava inserir participações do povo, ou “virar” o altar. Fazia-se (e ainda se faz) necessária uma profunda evangelização, uma profunda catequese!

Muito bem! Agora... Também é fato que a catequese necessita ser antecedida peloanúncio, pelo Kerygma, capaz de levar o fiel a uma experiência pessoal, íntima e transformadora com Jesus Cristo (o Encontro Com Cristo, tão mencionado pelo Documento de Aparecida).

Chegamos ao ponto de intersecção entre a Renovação Litúrgica e a Renovação Carismática Católica. Por meio da experiência denominada nos estatutos do ICCRS (International Catholic Charismatic Renewal Services), aprovados pela Santa Sé, deBatismo no Espírito Santo, o fiel encontra um caminho esplêndido uma experiência pessoal com Jesus Cristo. A pregação do Evangelho sob o “poder do Espírito Santo” – expressão utilizada pelo Apóstolo São Paulo para denominar as manifestações carismáticas – promove esta experiência que leva o fiel a uma sede profunda das fontes de vida espiritual que, por nossa catolicidade, são os sacramentos, a leitura da Palavra, a Oração, etc.

Neste sentido, o Batismo no Espírito Santo abre o coração do fiel para a Catequese, o que lhe permitirá uma participação mais vívida e eficaz dos sacramentos e, sobretudo, dos divinos mistérios celebrados na Eucaristia. Aliás, este é o testemunho das primeiras comunidades cristãs recolhido nos escritos patrísticos².

A Renovação Carismática Católica e a Animação Litúrgica

A “célula básica”, o “proprium” do Movimento Carismático tem nos chamados Grupos de Oração o seu verdadeiro lar. Estes grupos são caracterizados (ou eram, pelo menos) pela liberdade no Espírito, expressa por meio de palmas, danças e muita alegria (tal qual encontramos nos Salmos). Tudo isto faz parte da expressão de louvor docarismático, e ele encontra na Sagrada Escritura fundamentações muito sólidas para assim proceder³. Outra característica sine qua non dos Grupos de Oração são asmanifestações carismáticas.

A imensa maioria dos “católicos carismáticos” relatam a seguinte experiência:

“Eu sempre fui católico; contudo, eu era desses católicos que vão a missa e 'pronto'. Depois que eu estive num Grupo de Oração da Renovação Carismática, tive um encontro pessoal com Nosso Senhor Jesus Cristo e a minha vida mudou”.

Podemos levantar várias questões:

Estas pessoas não encontraram Jesus na Eucaristia?

Não é a Eucaristia a presença real de nosso Salvador (aliás, inigualável presença)?

A causa já nos foi explicada pelo Papa Bento XVI na citação que fiz acima. Como a graça de Deus pressupõe a natureza, não basta "traduzir" a missa para que ela se torne realmente acessível ao povo. Aliás, por que será que 90% das nossas crianças que estão fazendo primeira comunhão e crisma não estão “nem aí” para a Igreja? Será que “dar catequese” a pessoas que não tiveram uma experiência com Jesus não é semelhante a – com o perdão da palavra (apesar de as palavras não serem minhas, mas de Jesus) – atirar pérolas aos porcos?

Deste modo, perceba como é quase elementar para o carismático católico mal instruído a conclusão de que ele precisa tornar a Missa o mais semelhante possível ao Grupo de Oração onde ele teve sua experiência com Jesus Cristo. Palmas, danças, gestos e orações “carismáticas” começam a ser introduzidas na Santa Missa não porque o povo seja herege; eu diria que, na maioria das vezes, as intenções são as melhores e mais belas.

Precisamos instruir a nossos irmãos, portanto, no que tange ao correto modo de celebrar a Eucaristia tendo em nós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus. A Santa Missa é um culto infinitamente superior ao que prestamos a Deus em nossos Grupos de Oração. Em realidade, na Santa Missa é o Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo, quem age por nós e a nosso favor. Nossas palavras e gestos são um memorial, um Rito.

Deus fez uma série de Alianças com o homem. Cada aliança teve um mediador, com um rito de celebração próprio e previa uma benção (no cumprimento da mesma) ou uma maldição (no descumprimento da mesma). Dentre estas Alianças, ressalto a da Páscoa dos Israelitas, quando eles imolaram e comeram o cordeiro ainda no Egito para, depois, atravessarem o mar vermelho a pé enxuto. Os israelitas receberam instruções para organizar o rito e fazer memória, reviver, ano após ano, a Aliança feita com Deus. Toda a liturgia e o ministério dos levitas nasceu neste momento. Israel, ano após ano, imolou e comeu o cordeiro dentro do rito litúrgico previsto na Lei. Nosso Senhor Jesus Cristo, Mediador da Nova e Eterna Aliança, estabeleceu, na última ceia, o Rito da Nova e Eterna Aliança pelo qual se faria memória - no sentido bíblico de "tornar atual", reviver - do cordeiro imolado e se comeria a Sua carne e se beberia o Seu sangue.

Portanto: A Santa Missa é o Rito da Nova e Eterna Aliança onde o Mistério da imolação do Cordeiro (único e suficiente) é ratificado perenemente (dia após dia), a fim de participarmos da Aliança, comendo a carne e bebendo o sangue do Cordeiro, que se dá na Eucaristia. Neste Rito, Jesus Cristo é quemage a nosso favor. É nosso sábado onde todo o trabalho humano deve cessar (leia Jesus de Nazaré, do Papa Emérito Bento XVI, especialmente sobre a questão da Sábado)... É Deus quem trabalha. A Igreja recolheu a herança dos Apóstolos e seus sucessores nos manuais litúrgicos, a fim de que façamos cada gesto de acordo com o espírito do Rito, prescrito nos mesmos, porque a nós cabe, na Celebração Eucarística, "descansar". É, repito, o nosso Sábado. Aquilo que nós podemos fazer, os nossos esforços... Cessam, revelam-se incapazes diante da obra que só Deus mesmo pode fazer. Repetimos palavras e gestos na certeza de que é o Espírito Santo quem estará nos fazendo partícipes da única e irrepetível Eucaristia celebrada pelo Senhor Jesus, consumada na cruz e perpetuada através do séculos por meio da Igreja.

Rito é rito! Não se preocupe em inventar... É o seu sábado. Quem trabalha é Deus. Basta viver a liturgia e beber da graça. Isto não significa que sou adepto do rigorismo e fundamentalismo litúrgicos que caracterizam correntes teológicas tradicionalistas (que, praticamente, consideram tudo o que veio do Concílio Vaticano II em termos de liturgia como sendo "de segunda categoria"). Perceba que, a respeito da Sagrada Escritura, Jesus disse claramente que nada, nem sequer uma letra, deveria ser retirada ou acrescentada da lei. Isto, contudo, não o guiou a uma observância fundamentalista da lei ao estilo "sola scriptura". O período patrístico também se caracterizou por esta luta contra o fundamentalismo bíblico. Da mesma forma, fidelidade à letra e ao Espírito dos manuais litúrgicos não significa, em absoluto, rigorismo. A história da Igreja nos mostra como, ao longo dos séculos, as diversas culturas influenciaram a liturgia (o que originou os diversos ritos existentes).Portanto, a questão é a seguinte: Qualquer coisa que "retire" ou "tente imprimir um significado diferente e novo" que não condiga com a tradição da Igreja deve ser abolido. Nem todo "adendo" está "retirando" ou "imprimindo um significado diferente e novo", e é por isto que muitos deles foram incorporados aos diversos ritos existentes. Respeito ao sentido litúrgico: Este é o critério.

O Apóstolo São João narra, no Apocalipse, que viu o céu aberto. “De-velar”, “tirar o véu” é o que significa a palavra Apocalipse. Parusia, no grego, antes de significar a segunda vinda, tem o sentido de “presença”. Na visão do Apocalipse, São João vê o que,a partir de agora, se tornou realidade espiritual: Homens e anjos unidos numa única liturgia de adoração e louvor ao Cordeiro que está imolado (possui as marcas dos pregos) mas, ao contrário do que aconteceu no Calvário, está vivo e é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. No Apocalipse nós vemos o templo, sacerdotes paramentados, candelabros, cantos, incenso, momentos de silêncio, santos, anjos, a Virgem Maria, etc. Em qual outro culto cristão encontramos estes elementos que não seja na Divina Liturgia? O Apocalipse é, portanto, o verdadeiro inspirador dos nossos manuais de liturgia 4.

O Doutor Scott Hahn, autor do Livro "O Banquete do Cordeiro" demonstra como a Missa é a chave de entendimento do Apocalipse e como o Apocalipse é a chave de entendimento da Missa. De fato, quando vamos a Missa, o "Apocalipse" está diante de nossos olhos, já acontecendo, em mistério, até que se dê definitivamente na segunda vinda de Cristo.

Diante do Trono e do Cordeiro nós vemos a dimensão sacrifical, dolorosa, e também festiva, vitoriosa da Santa Missa. Dimensão sacrifical e dolorosa não quer dizer "velório" assim como dimensão festiva e vitoriosa não quer dizer "carnaval".

Aplicações Práticas

Colocarei orientações práticas para duas situações: A Santa Missa na Comunidade Paroquial (ou em qualquer outro lugar, sendo celebrada a uma comunidade aberta) e a Santa Missa celebrada em situações onde todos os participantes são carismáticos(especialmente os nossos Encontros propriamente carismáticos).

Sabemos que a Igreja falou, ao longo dos séculos, ao coração de cada uma das diversas culturas e povos, tendo a capacidade de se adaptar, recolhendo aquilo que era bom, rechaçando aquilo que era mal, sem permitir, de forma alguma, que este processo viesse em detrimento dos mistérios celebrados. É este o motivo pelo qual existem uma série de ritos diferentes para se celebrar a missa (nós estamos acostumados, no ocidente, ao Rito Romano). Ao mesmo tempo, a Santa Missa é o momento no qual toda a família de Deus (não obstante seu movimento, comunidade ou pastoral) celebra, unida junto ao Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo, a Nova Aliança. É imprescindível que, para conservar a noção de rito e guardar a unidade entre todos os participantes, se observe as prescrições dos manuais litúrgicos, como já explicamos acima.

Levantar as Mãos e Bater Palmas na Santa Missa:

“Bater palmas” e levantar as mãos na Santa Missa é algo que fere a liturgia? Depende. Estamos celebrando ao Banquete Nupcial do Cordeiro, que está imolado, mas está vivo, ressuscitado e poderoso, é verdade. Ao mesmo tempo, trata-se de fazer memória do seu sacrifício de Cruz. As duas dimensões, festiva e sacrifical, estão presentes na Divina Liturgia. Há momentos nos quais a liturgia nos pede mais ênfase na dimensão sacrifical (quaresma e advento) e momentos nos quais nos pede maior ênfase na dimensão festiva (páscoa e natal). Num momento, suprimem-se o “canto do glória” (advento); na quaresma, além do canto do glória, suprime-se o “Aleluia”. Na Páscoa abundam as exclamações de glória e Aleluia. No período do Natal há, também, toda uma ênfase festiva.

Respeitando períodos litúrgicos e os momentos do próprio Rito da Missa, não vejo como desrespeitoso que, num cântico como o glória, as pessoas possam devotamente levantar as mãos ou, até, aplaudir. Quem sabe até na procissão de entrada e na Aclamação ao Evangelho também se poderia, levando em conta os critérios acima mencionados (a ênfase do tempo litúrgico e o momento do Rito), levantar as mãos e aplaudir. Contudo, a partir do início da Liturgia Eucarística (o ofertório) não vejo fundamentações para que se batam palmas na Celebração Eucarística (estou aberto para as mesmas). No canto do “Santo” se poderia, quando muito, levantar as mãos num profundo sentimento de adoração (o que é diferente de levantar as mãos “abanando-as” ou “movimentando-as de um lado para o outro”).

Perceba que os tempos e momentos geram alguns “sentimentos”, que acompanham o sentido da ação litúrgica. É necessário respeitar isto, tendo em nós os mesmo sentimentos de Cristo. Se este gesto, em algum momento, deturpa o sentido daquele momento litúrgico... Deve ser retirado. Agora, se corrobora... Não há porque agir com rigorismo ao estilo "sola scriptura".

Instrumentos Musicais e Postura das Vozes

O instrumento preferido para a liturgia é o órgão. O canto próprio da liturgia é oGregoriano. As instruções dadas pelo Santo Padre pedem que, ao poucos, tenhamos coragem de ir reintroduzindo algumas partes da Santa Missa em canto Gregoriano (o Kyrie, o Gloria, o Sanctus, o Pater Noster, o Agnus Dei). Vi isto acontecer nas paróquias do Estados Unidos, e é muito bonito.

Temos percebido que alguns instrumentos já fazem parte da cultura musical dos povos. Qual é o critério de utilização dos mesmos? O sentido litúrgico. "Solos" de guitarra e de bateria não combinam com a Santa Missa em hipótese alguma, para citar um exemplo. Vozes gritando como se estivem no “The Voice Brasil” também destoam totalmente do sentido litúrgico. Portanto, a utilização dos instrumentos e a postura da voz deve ser amena, com ênfase no sentido do que se canta (mais que na performance artística dos músicos).

Manifestações e Orações Carismáticas

Em "missa aberta", onde pessoas de outras realidades eclesiais estão presentes, o critério será sempre não. O Apóstolo São Paulo deixou recomendações claras em I Cor 14 sobre o uso dos carismas na Assembleia. Dar vazão a uma manifestação carismática num ambiente de pessoas que desconhecem a mesma... É no mínimo temerário.

Nas missas onde todos os presentes são "carismáticos", há alguns momentos nos quais encontramos espaços adequados para a oração carismática. No momento das preces, por exemplo, vi como Dom Alberto Taveira conduz a Assembleia em oração intercessória pela Igreja e a oração em línguas se dá de forma simples e harmônica. No “Credo” existe a possibilidade de ser fazer a renúncia do mal e a profissão de fé, de modo que o carisma de libertação encontra um espaço propício. Na ação de graças o fiel pode, muito bem, orar em línguas no seu interior e, depois do espaço de silêncio, se toda a Assembleia fizer um momento de adoração (como é comum), pode-se muito bem estar abertos para a oração em línguas como expressão de adoração.

O critério será sempre o sentido litúrgico de cada momento.

Missas de Cura e Libertação

Há uma grande polêmica sobre as ditas missas de Cura e Libertação. “Toda a Missa é de cura e libertação”, dizem. Ora, todo o domingo é devotado à Santíssima Trindade, o que não impede de termos a festa da Santíssima Trindade num domingo específico. Parece cômico, mas já ouvi muitos sacerdotes criticando as missas de cura e libertação sendo que os mesmos já celebraram (e ainda celebram) Missas Afro.

A Missa é sempre a Celebração da Nova e Eterna Aliança. Ela pode, contudo, ser votiva a algum propósito específico (aos enfermos e doentes, por exemplo). Neste sentido, a Missa pode ser SIM celebrada com a intenção especial de súplicas a Deus pela cura e libertação de seu povo (aliás, cura e libertação são características marcantes do ministério de Jesus Cristo; já as missas afro...).

Este simples artigo não possui nenhum caráter oficial. São reflexões de um simples católico.

Finalizando

Convido meus irmãos da Renovação Carismática Católica a um verdadeiro esforço teológico que, respeitando a nossa essencial (e não acidental e periférica) expressão de louvor e adoração, bem como nossa essencial abertura às manifestações carismáticas, sejam contempladas e acolhidas dentro do sentido litúrgico, levando em conta a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição.

Percebo Movimentos como o Caminho Neocatecumenal se esforçando neste sentido. Que o tradicionalismo (que está invadindo realidades carismáticas neste tempo) não venha a ferir aquilo que, por mais de quarenta anos, temos vivido.
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1. Os primeiros trechos do livro de Denise K. Brakebrough foram traduzidos por mim e estão disponíveis no meu blog http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br

2. Veja o Documento Conclusivo do Diálogo entre Católicos e Pentecostais Clássicos sob a tutela do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos. Link para o documento: http://www.cnbb.org.br/publicacoes/edicoes-cnbb/4974-tornar-se-cristao-inspiracoes-da-escritura-e-dos-textos-da-patristica-com-algumas-refl-exoes-contemporaneas-vol-2

3. Veja este artigo sobre as fundamentações para o louvor alegre, com danças, palmas e gestos http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2008/04/renovacao-carismatica-catolica.html

4. Leia o Livro do Dr. Scott Hahn intitulado "O Banquete do Cordeiro".

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Criação: o maior presente de Deus para os homens

Criação: o maior presente de Deus para o homem, afirma o Papa na Audiência Geral


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sábado, 5 de abril de 2014

Pássaros


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segunda-feira, 24 de março de 2014

Francisco e a mudança na "fábrica de bispos"


Andrea Tornielli, Vatican Insider 12/03/2014

O perfil do bispo foi traçado em dois dos mais importantes discursos do Pontificado: aquele que Francisco pronunciou em junho de 2013 quando recebeu os núncios apostólicos, e aquele que fez, fundamental, em 27 de fevereiro, à Congregação para os Bispos. A estes se pode acrescentar a homilia de 25 de outubro de 2013 por ocasião das primeiras ordenações episcopais que o Papa celebrou. Nos últimos meses, estas indicações foram tomando corpo inclusive em nível operacional dentro da Congregação para os Bispos.

Na entrevista para o Vatican Insider de fevereiro, o cardeal arcebispo de Chicago Francis George, ao falar sobre a eleição do Conclave, disse: “O Conclave é um exercício de liberdade. Em primeiro lugar, a liberdade dos eleitores que devem aprender a libertar-se de qualquer tipo de interesse pessoal ou amizade ou de qualquer outro motivo para a eleição de um candidato que não seja o motivo dado durante o juramento antes do voto (“Quem é o melhor candidato para o trono de Pedro?”). Segundo, a liberdade dos candidatos que devem ser capazes de desempenhar um ministério pastoral universal (um candidato que não seja apenas subjetivamente livre, mas também objetivamente livre de qualquer “bagagem” relacionada às suas origens e ao seu passado...)”.


E este mesmo critério pode ser aplicado ao trabalho dos membros da Congregação para os Bispos, que devem propor ao Papa os nomes dos novos pastores de uma diocese. Não é mistério que há muito tempo existem “trilhos preferenciais”, grupinhos que premiam a proximidade de determinados candidatos a alguns cardeais, além de significativas ingerências, quanto ao caso específico da Itália, por parte da cúpula da Conferência Episcopal da Itália e da Secretaria de Estado. Em alguns casos, as nomeações episcopais para sedes importantes, tanto por sua história como por suas dimensões, se deram mediante a chamada “diretíssima”, isto é, o atalho que permite superar o “trâmite” da Congregação e a discussão entre os cardeais e bispos que a compõem.


Atualmente, certas influências diminuíram notavelmente. Não é nenhum segredo, por exemplo, que o cardeal Pietro Parolin (nomeado pelo Papa como membro da Congregação), ao contrário do que faziam seus predecessores, não quer interferir nas nomeações episcopais (sobretudo italianas), pois também é o secretário de Estado. E também a “diretíssima” e o poder dos grupinhos deveriam diminuir.


As indicações de Francisco, a este respeito, são claríssimas. Os núncios apostólicos, ao escolherem os candidatos ao episcopado, devem assinalar “pastores próximos das pessoas”, que “não sejam ambiciosos” e não aspirem ao posto e que não busquem constantemente, uma vez nomeados, ser promovidos para outra sede mais importante. O bispo ‘casa-se’ com sua Igreja, mas em muitos casos para com facilidade na segunda ou terceira ‘nupcia’.


“Os candidatos devem ser pastores próximos das pessoas: padres e irmãos, que sejam mansos, pacientes e misericordiosos”, pediu Francisco, convidando a deixar que os doutos se dediquem à pesquisa e ao ensino. Os candidatos ao episcopado devem amar “a pobreza, interior como liberdade pelo Senhor, e exterior, como simplicidade e austeridade de vida”, em vez de ter uma “psicologia de ‘príncipes’”. “Que não sejam ambiciosos – disse o Pontífice aos núncios –, que não busquem o episcopado e que sejam esposos de uma Igreja, sem que estejam buscando constantemente outra”.


Os bispos devem “servir” e não “dominar”. Devem ser, sobretudo, pais para seus sacerdotes, devem estar sempre dispostos a recebê-los. Além disso, devem estar próximos dos “pobres, dos indefesos e de quantos precisarem de acolhida e de ajuda”.


O Papa Francisco também escreveu à Congregação, também chamada de “fábrica de bispos”, em fevereiro e pediu-lhes que se assegurassem de que “o nome de quem foi escolhido seja, acima de tudo, pronunciado pelo Senhor”. “O Santo Povo de Deus segue falando – disse Francisco – e necessitamos de alguém que nos veja com a grandeza do coração de Deus. Não precisamos de um dirigente, de um administrador de empresa, e muito menos de alguém que esteja ao nível das nossas deficiências ou pequenas pretensões”. O papa convidou para avaliar as candidaturas sem perder de vista as necessidades das Igrejas particulares, porque “não existe um pastor padrão para todas as Igrejas”. Também convidou os membros da Congregação para elevarem-se “além das nossas eventuais preferências, simpatias, pertenças ou tendências”.


Os critérios desta eleição devem nascer da origem, da Igreja apostólica. O bispo deve ser “aquele que sabe atualizar tudo o que aconteceu a Jesus, e, sobretudo, aquele que sabe, junto com a Igreja, fazer-se testemunha da sua ressurreição”.


A tradução é de André Langer.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 13 de março de 2014